Relatório UBS 2023 revela sobre o futuro das grandes fortunas
Por Danilo Lopes, Sócio-Diretor da Gennesys
O que está em jogo quando falamos do futuro das grandes fortunas? Essa questão é especialmente relevante em um momento em que uma das maiores transferências de riqueza da história está acontecendo. De acordo com o Relatório de Ambições de Bilionários 2023, elaborado pelo UBS, as ambições, preocupações e prioridades das gerações bilionárias têm mudado conforme novas realidades e desafios surgem. Esse estudo revela tendências e dilemas enfrentados por essas famílias e expõe como herdeiros e fundadores diferem em suas visões de legado.
Os herdeiros têm suas próprias ambições
O relatório UBS aponta que os herdeiros de fortunas bilionárias se encontram diante de uma nova realidade. Embora mais de dois terços (68%) dos bilionários com riqueza herdada planejem continuar expandindo os legados familiares – seja em negócios, marcas ou ativos – existe um desejo crescente de reformular esses patrimônios de maneira que reflitam também seus valores e interesses próprios. Essa nova geração é moldada por um cenário de rápidas transformações, que incluem o avanço tecnológico e a transição energética, colocando-os diante de novas decisões estratégicas que precisam equilibrar tradição e inovação.
Esses jovens bilionários também são influenciados por fatores externos, como mudanças climáticas e instabilidade política, o que reforça o desejo de repensar o modo como a riqueza é gerida e aplicada. No entanto, existe uma lacuna geracional visível entre os bilionários fundadores e seus herdeiros, que se mostra evidente nas dificuldades enfrentadas para transmitir valores e competências necessárias para a liderança familiar.
Um dos bilionários entrevistados pelo UBS destacou: “A maior diferença é que a geração fundadora teve que criar sua própria visão empresarial, enquanto os herdeiros tendem a valorizar menos essa ambição.” Esse comentário revela o desafio de educar a próxima geração para apreciar a importância dos legados empresariais.
Divergências nos riscos e consenso sobre a inteligência artificial (IA) entre gerações
Em um mundo instável, os riscos percebidos pelos bilionários mudam conforme a geração. Segundo o relatório, enquanto 66% dos bilionários fundadores de primeira geração estão focados na possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, as gerações sucessoras estão mais preocupadas com a inflação e com a disponibilidade de matérias-primas.
No entanto, em um ponto as gerações concordam: a inteligência artificial. Quase dois terços (65%) dos bilionários acreditam que a IA representa uma das maiores oportunidades comerciais para seus negócios nos próximos 12 meses. Esse alinhamento pode ser um dos fatores mais estratégicos para a continuidade dos negócios familiares, oferecendo uma plataforma onde fundadores e herdeiros encontram um ponto de conexão. As empresas bilionárias estão explorando IA para aumentar a produtividade, reduzir custos e até mesmo criar novos produtos e serviços.
Investimentos: uma aposta diferente entre criadores e herdeiros
As tendências de investimento também diferem. Os bilionários de primeira geração, focados na preservação da riqueza, tendem a investir em dívida e renda fixa. Segundo o UBS, cerca de 43% desses fundadores têm planos de aumentar seus investimentos em dívida privada e 38% em títulos de dívida de mercados desenvolvidos.
Por outro lado, as gerações sucessoras estão mais abertas ao risco e focam em private equity, acreditando em retornos de longo prazo e sustentáveis. 59% dos herdeiros planejam aumentar suas alocações em investimentos diretos de private equity, refletindo uma preferência por ativos com potencial de inovação e crescimento sustentável.
Uma nova perspectiva sobre filantropia
A filantropia, tema tradicional entre bilionários, também está mudando de direção. Bilionários da primeira geração têm um compromisso mais firme com a filantropia clássica, com 68% deles priorizando o impacto social de seu legado. Em contraste, apenas 32% das gerações herdeiras compartilham desse objetivo. Os herdeiros preferem usar sua influência para promover mudanças sociais por meio do investimento de impacto, muitas vezes direcionando capital para empresas que priorizam práticas ambientais e sociais responsáveis.
Esse movimento representa uma evolução em direção ao capitalismo consciente. A nova geração busca integrar responsabilidade social a todas as áreas de atuação, como explicou um bilionário da segunda geração: “Estou tentando transformar nossa empresa para setores que impactem menos o meio ambiente, mas é um processo gradual.”
Caminhos próprios e o legado familiar
Outro dado interessante revelado pelo UBS é que mais de metade (57%) dos novos bilionários optaram por seguir carreiras independentes, afastando-se dos negócios familiares. Especialmente na região da Ásia-Pacífico (APAC), dois terços dos herdeiros estão traçando seus próprios caminhos, seja abrindo novas divisões ou negócios, ou até mesmo escolhendo áreas completamente diferentes.
Essa tendência reflete um cenário global em que os herdeiros querem autonomia para construir suas próprias identidades e carreiras, sem necessariamente romper os laços com a tradição familiar.
Conclusão: novas gerações, novos caminhos para o legado
As transformações que moldam as ambições dos bilionários nos mostram um movimento de adaptação à nova realidade global, onde a sustentabilidade, a inovação e o impacto social estão cada vez mais integrados ao conceito de riqueza. A próxima geração de bilionários talvez precise ser mais flexível e inovadora para garantir a continuidade e relevância de seus legados, em meio a pressões por mudanças e desafios globais.
Ao observar essas tendências, o Relatório de Ambições de Bilionários do UBS 2023 nos oferece uma visão privilegiada sobre como as novas gerações de bilionários planejam gerenciar sua riqueza de maneira que traga prosperidade não apenas para suas famílias, mas também para a sociedade como um todo. Ao fazer isso, buscam transformar seus legados em verdadeiras plataformas de mudança social e econômica, provando que as ambições bilionárias vão muito além do lucro – elas também incluem o desejo de um mundo mais justo e sustentável.